sexta-feira, outubro 23, 2009

O Dia da Prestação de Contas – Juvenis – Lição 04

Texto copiado do livro : Manual de Escatologia

Existem dois acontecimentos retratados nas Escrituras, de significado estatológico especial, dos quais a igreja tomará parte após o arrebatamento: o tribunal de Cristo e as bodas do Cordeiro.

I. O Tribunal de Cristo

Em 2 Coríntios 5.10 e Romanos 14.10, embora na última passagem a leitura correta seja "o tribunal de Deus", é declarado que os crentes serão examinados diante do Filho de Deus. Isso é explicado com maiores detalhes em 1 Coríntios 3.9-15. Assunto de tamanha seriedade exige atenção cuidadosa.

A. O significado do tribunal. Existem duas palavras traduzidas por "tribunal" no Novo Testamento. A primeira é critërion, usada em Tiago 2.6 e em 1 Coríntios 6.2,4. De acordo com Thayer, essa palavra significa "instrumento ou meio de pôr à prova ou julgar qualquer coisa; lei pela qual alguém julga" ou "local onde o julgamento é feito; tribunal de juiz; banca de juizes". (Joseph Henry Thayer, Greek-English lexicon of the New Testament, p. 362) Conseqüentemente a palavra se referia ao padrão ou critério pelo qual o julgamento era dispensado ou ao local onde o julgamento era realizado. A segunda palavra é bêma, a respeito da qual Thayer diz:

...local elevado cujo acesso se fazia por degraus; plataforma, tribuna; usada em relação ao assento oficial de um juiz, Atos 18.2,16 [...] assento de julgamento de Cristo, Romanos 14.10 [...] a estrutura, assemelhando-se a um trono, que Herodes construiu no teatro em Cesaréia e a qual ele usava para assistir aos jogos e fazer discursos ao povo...(Ibid., p. 101)

Com respeito ao seu significado e uso, Plummer escreve:

O [...] [bêma] é o tribunal, seja numa basílica para o pretor numa corte de justiça, seja num acampamento militar para o comandante administrar disciplina e dirigir-se às tropas. Em qualquer um dos casos, o tribunal era uma plataforma na qual se colocaria o assento (sella) do oficial que presidia. Na lxx... [bêma] comumente significa plataforma ou andaime em vez de assento. (Ne 8.4...) No Novo Testamento parece significar geralmente o assento [...] Mas em alguns trechos significa uma plataforma na qual o assento é colocado. No Areópago o [...] [bêma] era uma plataforma de pedra [...] Por mais afeiçoado que Paulo fosse a metáforas militares e por mais que gostasse de comparar a vida cristã à guerra, é pouco provável que estivesse pensando em um tribunal militar aqui. (Alfred Plummer, A critical and exegetical commentary on the second epistle to the Corinthíans, p. 156)

De acordo com Sale-Harrison:

Nos jogos gregos de Atenas, a velha arena tinha uma plataforma elevada na qual se assentava o presidente ou juiz da arena. De lá ele recompensava todos os competidores; e lá ele recompensava todos os vencedores. Era chamado "benta" ou "assento de recompensa". Nunca foi usado em referência a um assento judicial. (L. Sale-Harrison, Judgement seat of Christ, p. 8)

Desse modo, associa-se a essa palavra a idéia de proeminência, dignidade, autoridade, honra e recompensa, e não a idéia de justiça e julgamento. A palavra que Paulo escolheu em referência ao local diante do qual se dará esse acontecimento deixa prever seu caráter.

B. A ocasião.
O acontecimento aqui descrito ocorre imediatamente após a translação da igreja para fora da esfera terrestre. Existem várias considerações que apóiam essa informação.

1) Em primeiro lugar, de acordo com Lucas 14.14, recompensa está associada à ressurreição. Visto que, de acordo com 1 Tessalonicenses 4.13-17, a ressurreição é parte fundamental da translação, o galardão deve ser parte desse plano.

2) Quando o Senhor retornar à terra para reinar, a noiva é vista como já recompensada. Isso é observado em Apocalipse 19.8, em que a "justiça dos santos" é plural ("atos de justiça") e não pode referir-se à justiça imputada de Cristo, que é a porção do crente, mas aos atos de justiça que sobreviveram ao exame e tornaram-se a base do galardão.

3) Em 1 Coríntios 4.5, em 2 Timóteo 4.8 e em Apocalipse 22.12, o galardão está associado com "aquele dia", quer dizer, o dia em que Ele vier para os Seus. Desse modo, devemos notar que o galardão da igreja acontecerá entre o arrebatamento e a revelação de Cristo à terra.

C. O lugar. Não é preciso destacar que esse exame deve realizar-se na esfera das regiões celestes. 1 Tessalonicenses 4.17 diz que seremos "arrebatados [...] entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares". Visto que o bema segue a translação, os "ares" devem ser o seu palco. Isso também é apoiado por 2 Coríntios 5.1-8, em que Paulo descreve os acontecimentos que ocorrem quando o crente "deixar o corpo e habitar com o Senhor". Desse modo, isso deve acontecer na presença do Senhor na esfera dos "lugares celestiais".

D. O Juiz. 2 Coríntios 5.10 deixa claro que esse exame é conduzido diante da presença do Filho de Deus. João 5.22 declara que todo o julgamento foi confiado às mãos do Filho. O fato de esse mesmo acontecimento ser citado em Romanos 14.10 como "o tribunal de Deus" mostraria que Deus confiou o julgamento às mãos do Filho também. Parte da exaltação de Cristo é o direito de manifestar autoridade divina no julgamento.

E. Os participantes. Pouca dúvida deve haver de que o bema de Cristo está relacionado apenas aos crentes. O pronome pessoal na primeira pessoa ocorre com tão grande freqüência em 2 Coríntios 5.1-19 que não pode ser desprezado. Apenas o crente poderia ter "uma casa não feitas por mãos, eterna, nos céus". Apenas um crente poderia experimentar "mortalidade [...] absorvido pela vida". Apenas um crente poderia experimentar o trabalho de Deus, "que nos preparou para isto, outorgando-nos o penhor do Espírito". Apenas um crente poderia ter a confiança de que, "enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor". Apenas um crente poderia andar "por fé, e não pelo que vemos".

F. A base da avaliação. Devemos observar cuidadosamente que a questão aqui não é verificar se o julgado é ou não o crente. A questão da salvação não está sendo considerada. A salvação ofertada ao crente em Cristo livrou-o perfeitamente de todo o julgamento (Rm 8.1; Jo 5.24; l Jo 4.17). Trazer o crente para o julgamento do pecado, quer de pecados anteriores ao novo nascimento, quer de pecados desde o novo nascimento, quer de pecados não confessados, é negar a eficácia da morte de Cristo e anular a promessa de Deus de que "também de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e das suas iniqüidades, para sempre" (Hb 10.17). Pridham escreve:

Um santo nunca mais será julgado pelas suas iniqüidades naturais ou herdadas, pois já está legalmente morto com Cristo, e não é mais conhecido ou tratado com base em sua responsabilidade natural. Ele estava sob condenação de uma herança natural de ira e nada de bom tinha sido descoberto na sua carne; mas sua culpa foi eliminada pelo sangue de seu Redentor, e ele é perdoado livre e justamente por causa de Seu Salvador. Ele é justificado pela fé, e é apresentado perante Deus no nome e pelos méritos do Justo; e, de sua nova e sempre bendita condição de aceito, o Espírito Santo é o selo vivo e a testemunha. Por sua própria conta, então, não poderá entrar em juízo... (Arthur Pridham, Notes and reflections on the Second Epistle to the Corinthians, p. 141)

Todo esse plano está relacionado à glorificação de Deus pela manifestação de Sua justiça no crente. Comentando sobre 2Coríntios 5.10, Kelly diz:

Mais uma vez, não é uma questão de recompensas como em 1 Coríntios 3.8,14, mas de retribuição no governo justo de Deus, de acordo com o que cada um fez de bom ou ruim. Isso abrange todos, justos ou injustos. É para a glória divina que todo o trabalho feito pelo homem deverá aparecer como realmente é perante Aquele que é ordenado por Deus como Juiz de mortos e vivos. (William Kelly, Notes on the Second Epistle of Paul the Apostle to the Corinthians, p. 95.)

A palavra traduzida por "compareçamos" em 2 Coríntios 5.10 poderia ser mais bem traduzida por "sejamos manifestos", de modo que o versículo diria: "Porque importa que todos sejamos manifestos". Isso implica que o propósito do bëma é fazer uma manifestação pública, demonstração ou revelação do caráter e das motivações essenciais do indivíduo. A observação de Plummer: "Não seremos julgados en masse, ou em classes, mas um por um, de acordo com o mérito individual" (Plummer, op. cit., p. 157)
confirma o fato de ser esse um julgamento individual dos crentes perante o Senhor.

As obras dos crentes são julgadas, chamadas "o [...] que tiver feito por meio do corpo" (2 Co 5.10), a fim de que possa ser apurado se são boas ou más. Com respeito à palavra mal (phaulos), devemos observar que Paulo não usa as palavras comuns correspondentes a mal (kakos ou ponêras), que significam o que é ética ou moralmente maléfico, mas, sim, a palavra que, segundo Trench, significa:

... maldade sob outro aspecto, não o de maldade ativa ou passiva, mas de inutilidade, de impossibilidade de gerar qualquer bem [...] Essa noção de inutilidade ou desvalor é a noção central... (Richard C. Trench, New Testament synonyms, p. 296-7)

Desse modo o julgamento não determina o que é eticamente bom ou mau, mas, pelo contrário, o que é aceitável e o que não tem valor. O propósito do Senhor não é punir Seu filho pelos pecados, mas recompensar seu serviço pelas coisas feitas em nome do Senhor.

G. O resultado do exame. 1 Coríntios 3.14,15 declara que esse exame terá duplo resultado: um galardão recebido e outro perdido. O que determina se alguém recebe ou perde um galardão é a prova pelo fogo, pois Paulo escreve: "Manifesta se tornará a obra de cada um [a mesma palavra usada em 2Coríntios 5.10]; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará" (1 Co 3.13). Nessa declaração é evidente, em primeiro lugar, que são as obras do crente que estão sendo examinadas. Além disso, vemos que o exame não é um julgamento baseado em observação externa; pelo contrário, é um teste que apura o caráter e a motivação interna. Todo o propósito de uma prova pelo fogo é identificar o que é destrutível e o que é indestrutível.

O apóstolo afirma que existem duas classes de materiais com que os "cooperadores de Deus" podem construir o edifício cujo alicerce já foi estabelecido. Ouro, prata, pedras preciosas são materiais indestrutíveis. Essas são as obras de Deus, das quais o homem simplesmente se apropria e usa. Por outro lado, madeira, feno e palha são materiais destrutíveis. São as obras do homem, que ele produziu com seus próprios esforços. O apóstolo revela que o exame no bema de Cristo visa a detectar o que foi feito por Deus mediante as pessoas e o que foi feito pela própria força do homem; o que foi feito para a glória de Deus e o que foi feito para a glória da carne. Isso não pode ser concluído pela observação externa, e, portanto, a obra deve ser posta a severa prova, para que seu caráter verdadeiro seja demonstrado.

1. Com base nesse teste, haverá duas decisões. Haverá perda de recompensa para o que for destrutível pelo fogo. Coisas feitas na força e para a glória da carne, independentemente do ato, serão reprovadas. Paulo expressa seu medo de depender da energia da carne e não do poder do Espírito quando escreve: "Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado" (1Co 9.27).

Quando Paulo usa a palavra desqualificado (adokimos), ele não está expressando medo de perder sua salvação, mas de ter sua obra declarada "inútil". A respeito disso, Trench escreve:

No grego clássico a palavra técnica para aplicar dinheiro em algo [...] [dokimê] ou evidência, com a ajuda de [...] [dokimion] ou prova [...] aquilo que é atestado por essa evidência [...] [dokimos, aprovado], aquilo que não é confirmado pela evidência [...] [adokimos, desaprovado ou rejeitado]... (Ibid., p. 260)

Para se garantir contra uma possível interpretação de que sofrer uma perda significa perder a salvação, Paulo acrescenta: "mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo" (1 Co 3.15).

2. Haverá um galardão pela obra demonstrada indestrutível pela prova de fogo. No Novo Testamento existem cinco áreas em relação às quais se mencionam especificamente o galardão:

1) uma coroa incorruptível para os que obtiveram vitória sobre o velho homem (1 Co 9.25);

2) uma coroa de alegria para os ganhadores de almas (l Ts 2.19);

3) uma coroa de vida para os que suportaram a provação (Tg 1.12);

4) uma coroa de justiça para os que amam a Sua vinda (2Tm 4.8) e

5) uma coroa de glória para os que se dispuseram a apascentar o rebanho de Deus (l Pe 5.4). Essas passagens parecem revelar as áreas em que as recompensas serão concedidas.

Algo na natureza das coroas ou recompensas é sugerido pela palavra traduzida por coroa (stephanos). Mayor diz que ela é usada em referência a:

1) coroa de vitória nos jogos atléticos (1 Co 9.25; 2Tm 2.5);

2) ornamento festivo (Pv 1.9; 4.9; Ct 3.11; Is 28.1);

3) honra pública concedida por um serviço notável ou por valor pessoal, como uma coroa de ouro dada a Demóstenes...( J. B. Mayor, The Epistle of James, p. 46)

Contrapondo essa palavra a diadema, Trench escreve:

Não devemos confundir essas palavras só porque o nosso termo "coroa" traduz ambas. Duvido que em algum lugar da literatura clássica [...] [stephanos] jamais seja usada em referência à coroa imperial [.,..] No Novo Testamento é claro que a [...] [stephanos] da qual Paulo fala é sempre a coroa do conquistador e não a do rei (1 Co 9.24-26; 2Tm 2.5) [...] A única ocasião em que [...] [stephanos] parece ser usada como coroa de um rei é em Mateus 27.29; cf. Marcos 15.17; João 19.2. (Trench, op. cit., p. 79)

Desse modo a própria palavra escolhida por Paulo para designar as recompensas está associada à honra e à dignidade concedidas ao vencedor. Embora venhamos a reinar com Cristo, a coroa real será apenas dEle. A nossa coroa é a do vencedor.

Em Apocalipse 4.10, em que os anciãos são vistos lançando suas coroas perante o trono num ato de louvor e adoração, fica claro que as coroas não serão para a glória eterna de quem as recebeu, mas para a glória de Quem as concedeu. Já que essas coroas não são vistas como posse permanente, surge a questão da natureza dessas recompensas. As Escrituras ensinam que o crente foi redimido para trazer glória a Deus (1 Co 6.20). Esse é o seu destino eterno. Colocar um sinal material de recompensa aos pés d'Aquele que está sentado no trono (Ap 4.10) é um ato dessa glorificação.

Mas o crente não terá, nesse momento, completado seu destino eterno de glorificar a Deus. Isso continuará por toda a eternidade. Visto que o galardão é associado a luz e brilho em muitos trechos das Escrituras (Dn 12.3, Mt 13.43; 1 Co 15.40,41,49), o galardão dado ao crente pode ser a capacidade de manifestar a glória de Cristo pela eternidade. Quanto maior o galardão, maior a capacidade dada de glorificar a Deus. Desse modo, no exercício do galardão do crente, Cristo, e não o crente, é glorificado.

A capacidade de irradiar a glória será diferente, mas não haverá sensação pessoal de carência uma vez que cada crente abundará até o limite de sua capacidade, "a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (l Pe 2.9).

Fonte: Manual de Escatologia – J. Dwight Pentecost

3 comentários:

  1. Valeu, este subsídio!!! Estou em busca sempre para minha turma... Shalon! Manacapuru- AM. Maely Amaro

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  2. Maely,
    Estamos sempre trabalhando para ajudar os irmãos.Obrigado pelo seu comentário. Continue conosco.

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  3. Que Deus continue abençoando vocês, derramando sua sabedoria sobre vocês..........

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